Quase quatro centenas de associados marcaram ontem presença na Assembleia-Geral da Adega Cooperativa de Cantanhede, que reuniu para votar o orçamento e plano de actividades para o ano de 2010 e eleger os novos órgãos sociais para o triénio 2010/2012. O acto eleitoral foi dos mais concorridos de sempre e até à contagem dos votos a incógnita era grande. Ambos os candidatos (José da Silva, lista A e Vítor Damião, lista B) tinham os seus trunfos, mas, durante o acto eleitoral nenhum quis antecipar um prognóstico e patenteavam algum nervosismo.
O acto foi longo e moroso (começou às 10h00 e terminou por volta das 16h00). Os associados eram chamados um a um, identificados, e só depois recebiam o boletim de voto, o que se revelou um processo fastidioso. Porém, ninguém arredou pé até colocar a cruzinha no boletim. Nas urnas entraram 394 votos. Passou-se à contagem e o nervosismo aumentava. Os candidatos, a meio da contagem, estavam separados por uma ligeira diferença, mas.
Mas a lista B, encabeçada por Vítor Damião, 61 anos, actual responsável pelas Caves Conde de Cantanhede, acabou por vencer por uma margem substancial atendendo ao universo de votantes, com 235 votos favoráveis (60%), contra os 158 votos (40%) obtidos pela lista A encabeçada por José da Silva, antigo presidente da adega durante 13 anos. Foi, ainda, contabilizado um voto em branco.
«As eleições foram muito "renhidas", foram disputadas "taco-a-taco" e, no fim, fiquei de certa forma surpreendido com a diferença. Mas tinha a sensação que iria vencer», disse ao Diário de Coimbra Vítor Damião, obviamente satisfeito, mas também com um grande sentimento de responsabilidade.
«Vem aí, agora, muita responsabilidade e muito trabalho para projectar a adega para um futuro melhor, para ultrapassar as dificuldades», disse à nossa reportagem o presidente eleito. Garantindo «trabalho e muito trabalho» no sentido de projectar a adega cooperativa «no país e no mundo» e dotá-la «de maior rentabilidade». Para isso conta com todos os associados, incluindo os que votaram na lista A, para cumprir os projectos que defendeu durante a campanha eleitoral.
Conforme já havia dito ao DC antes do acto eleitoral, Vítor Damião pretende «reaproximar os associados com a melhoria e garantia «credível de preços mínimos das uvas, antes de cada vindima», e, ao mesmo tempo, «encurtar os prazos de pagamento».
Por outro lado, o novo presidente da adega quer melhorar a comunicação entre os diversos sectores da adega, «reestruturando e integrando sempre que necessário», sendo um dos objectivos a aposta «na formação e avaliação dos colaboradores, para melhorar a produtividade».
Lançar novas marcas
Vítor Damião afirma ter vários projectos em mente, entre os quais o lançamento de novas marcas e novos vinhos «que afirmem mais a adega nos mercados», o que deverá ser conseguido, afiança, através de pequenas produções «tipo micro-adega de vinhos topo de gama, que abrirão as portas aos outros vinhos da adega».
Depois, sustenta, a sua acção também passa pela rentabilização dos espaços existentes na cooperativa, como o salão de eventos, o museu e as caves de envelhecimento, a sala de provas e a loja de vinhos, «e construir e reforçar marcas fortes, com maior dinamismo e marketing das marcas Marquês de Marialvas».
"Efeito Catarino" andou de boca
em boca nos corredores
Estas eleições na adega de Cantanhede também foram férteis nos habituais "jogos de bastidores", nas "bocas" que se ouvem (ouviram) e nas "tácticas" que cada candidato usou para captar votos. A reportagem do Diário de Coimbra ouviu algumas dessas "bocas" no decorrer do acto eleitoral e a mais comentada estava relacionada com Jorge Catarino, candidato à presidência do Conselho Fiscal da Lista A. Apoiantes de Vítor Damião comentavam "à boca pequena" que o antigo presidente da Câmara andava numa roda viva no salão da adega a pedir que alguém fosse buscar associados a casa para votarem na Lista A. Por outro lado, apoiantes de José da Silva afirmam que a candidatura de Damião andou de porta em porta a dizer aos associados que se Jorge Catarino ganhasse as eleições, este compraria a adega e que voltava a formar uma equipa de ciclismo para representar a instituição. No final da contagem dos votos alguém disse que «o efeito Catarino não resultou», e atribui as "bocas" «há política, pois uma lista (A) é do PSD, outra (B) é do PS.
"Procurações determinantes
para a vitória da lista B"
José da Silva Castilho, candidato vencido, felicita os candidatos da lista B que obtiveram «uma vitória significativa» e desvaloriza a derrota da sua lista. Este candidato considera que a sua lista ganharia as eleições se não houvesse um pormenor importante que as marcou. Ou seja, cada associado podia representar outros três associados desde que tivessem uma procuração e, neste pormenor, a lista de Vítor Damião tinha 80 procurações e a de José da Silva apenas 20. «Foi esse pormenor que fez a diferença, as procurações foram determinantes para a vitória da lista B», sustenta o candidato derrotado que, contudo, reconhece mérito na vitória de Damião. «É uma pessoa humilde, experiente, com conhecimento, e agora só espero que ponha ao serviço da adega essa experiência», deseja o candidato derrotado, enfatizando que a adega «necessita do esforço de todos», que nesta eleição «não há vencidos nem vencedores» e, por isso, concluir que está disponível para colaborar com a nova direcção.