Reza o Diccionario Chorographico de Portugal Continental e Insular de Américo Costa, editado em 1929, que Arrôtas é uma povoação da freguesia da Porcariça (sic), concelho e comarca de Cantanhede e, para além desta Arrôtas, apenas refere mais duas: uma delas, em 1929, era povoação da freguesia de N.ª S.ra da Natividade e pertencia ao concelho de Murtosa e à comarca de Estarreja; a outra é designada de quinta da freguesia de Porcariça, pertencendo ao lugar de Arrôtas.

Curioso é que, assim como a Pocariça  (freguesia) contém em si a Pocariça (povoação), também Arrôtas (povoação) contém em si Arrôtas (quinta), o que logo lembra as matrioskas - bonecas russas que dentro de si contêm outras iguais, mas de menor tamanho, assim como as bonecas mais pequenas contêm outras ainda menores e assim sucessivamente, até se chegar a bonecas verdadeiramente miniaturais.

Mais verifiquei que com a grafia de Arrôtas (com acento circunflexo ou, como também se diz, com chapéu), para além da povoação da nossa freguesia, Américo Costa apenas refere a quinta de Arrôtas. A povoação de Arrotas do concelho de Murtosa, menos adornada, não leva chapéu, i.e. não tem acento circunflexo.

O que desconcerta é que Viriato de Sá Fragoso, no seu fundamental trabalho A Freguesia da Pocariça, grafe a nossa povoação também sem acento, mas talvez uma incursão pela etimologia de Arrôtas possa desfazer o enigma.

Significa isto que, na toponímia dos lugares da freguesia da Pocariça, é Arrôtas que tem o nome mais singular, já que com o nome de Pocariça aparecem no citado Diccionario de Américo Costa treze entradas, o que inclui ribeiras, povoações, casais e lugares. Com o nome de Montinho aparecem, tão somente, cento e oitenta e três entradas, o que, se for lembrado que o nome revela uma geografia local comum, não espanta.

O mais próximo de Arrôtas que pude encontrar, para além das Arrotas de Murtosa, foi Arrôta, povoação do concelho de Oliveira de Azeméis, existindo também quatro lugares - ou logares como antes se escrevia e dizia - com o nome de Arrota. Mas, não hajam dúvidas, Arrota é uma coisa e Arrôtas é outra!

Para lá de devaneios e digressões gráficas sobre a povoação de Arrôtas, temos a Arrôtas de pedra e cal, aquela que, inevitavelmente, faz parte do património colectivo dos fregueses e paroquianos da Pocariça.

Foi em 1908, segundo o mesmo Américo Costa, que D. Maria Cândida Pessoa da Cunha, em memória do seu marido Albino Augusto da Cunha, mandou edificar o símbolo e local religioso mais proeminente de Arrôtas: a capela de N.ª S.ra das Dores. Esta capela nasceu assim do concurso de dois factores: a memória do marido e o sentimento religioso de D. Maria Cândida Pessoa da Cunha.

Faltam, portanto, dois anos para o centenário da construção da Capela de N.ª S.ra das Dores, pelo que não seria de todo despropositado que os representantes da nossa freguesia (religiosos ou não) comemorassem este aniversário. É, como se sabe, um monumento estrutural não só para os habitantes de Arrôtas mas também para toda a freguesia, tendo, obviamente, uma importância religiosa indiscutível.

E, em verdade, que pocaricense não recorda a presença deste edifício na festa anual em honra de N.ª S.ra das Dores, e o tempo em que artistas como a Simone de Oliveira e outros de alto gabarito aí cantavam? A romaria de N.ª S.ra das Dores (onde até já foi possível aceder ao sítio PocariçaOnline) é lembrada não só pelos artistas, quermesses e bailes - onde decerto tantos namoros e encontros viram a luz do dia (ou da noite)  - mas também por aquele edifício.

Pois bem, fica a nota.

Já agora, em jeito de edição de última hora, fique a saber que em 1940 havia, em Arrôtas, 1,2 mulheres para cada homem, ou seja - para que não haja algum mal-entendido - num total de 425 habitantes, 193 eram homens e 232 mulheres, pelo que bem se vê que os bailes deviam ser animados!